Avançar para o conteúdo principal

Rendas pretas

Não era incapaz de ir a igreja sem se arranjar, especialmente por baixo da saia, gostava de usar rendas pretas, caras, suave ao toque para sentir o calor da pele, gostava de se sentir bela no seu íntimo. Uma corrente de ouro com a cruz a bater no decote bastante aberto, umas gotas de perfume caro. Nada de batõ e nem outro tipo de pintura, o senhor é para coisas da alma. Da janela do seu quarto podia ver a igreja, sentir o badalar do sino, olhou para o espelho, dou um retoque no espelho e pôs o véu preto sobre a cabeça, pegou na bíblia e no terço, saiu para a rua. O som do sino a guiava até a igreja, sem olhar para os lados porque é uma mulher seria, uma mulher de Deus. Antes de entrar na igreja benzeu-se e entrou naquela escuridão, já que a igreja tinha poucas  janelas e a iluminação das velas era muito pouca, algo que ela achava existente. Lembrou-se de um dia em que começou a roubar velas da igreja e no seu quarto deixou derreter a vela na sua pele, chamava-lhe o toque de Deus... Sabia todas orações, é a primeira a entrar na igreja e a última a sair. Não era uma mulher que gostasse de conversar, respeitava o silêncio da igreja, muitas vezes imaginava o respirar de Deus no seu pescoço e todo o amor de Deus lhe percorria o corpo. Amava Deus mais do que todos e ele sabia, sentia esse amor no coração. Ela tinha um segredo, mas nunca o poderia revelar, nem pensar nisso, porque isso fazia de ela muito carne, coisa que mulher de Deus não pode sentir. Quando saía da igreja, sempre em silêncio, fugia para casa em câmara lenta. A sua pele ardia, a culpa é do sol, pensava. Chegava ao quarto tirava a roupa e tomava banho, sentia a falta de Deus.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A noiva mais bela

Sempre que uma amiga me dizia que se ia casar. Eu dizia-lhe, que seria das noivas mais belas, só não seria a mais bela, porque essa seria a minha. Hoje casa-se a noiva mais bela com um amigo meu. Desço as escadas da igreja com mais dor do que as subi e em cada movimento que me leve para longe dela, é uma faca que despedaça o coração em mil pedaços. O meu andar é desnorteado, como se caminhasse perdido num deserto quase sem vida. Uma subtil brisa parece querer limpar as lágrimas, que os meus olhos deixam cair como pegadas que ela pudesse seguir. Caminho até não poder mais, apoio -me a um poste de iluminação e senti o telemóvel tocar, procurei-o no bolso e deitei-o no lixo. Olhei para o céu como se ele pudesse agarrar -me e levar para longe dali… mas não, nada se interessava! Nem tão pouco chovia! Estava um dia ideal para se casar, a escuridão era só minha …suspirei e abandonei o meu apoio, continuei andar, desta vez, ainda mais lentamente. Sou um tipo banal, as mulheres não se apaixo

A salvação

O padre Francisco não podia ser mais feliz, tinha uma linda igreja, sempre bem arranjada com ajuda do seu rebanho, nesse rebanho não havia uma ovelha negra. Toda a gente amava Deus e ele se sentia abençoado por isso. Uma certa tarde depois da missa, sempre a igreja cheia. O conde dos sete reinos pediu para falar com o padre, ele levou o conde para onde costumava receber a gente mais nobre, dou a sua cadeira ao conde, tirou a sua melhor garrafa de vinho do porto e encheu o copo do conde e um fundinho no dele. Sobre o olhar do conde se assentou numa cadeira e perguntou o que o trazia aos seus humildes aposentos. O conde bebeu e perguntou, o senhor padre sabe que mandou arranjar o telhado da igreja? O padre sorriu e respondeu, como poderia esquecer da sua bondade! O conde acenou com a cabeça suavemente e perguntou, o senhor padre se lembra quem mandou arranjar os seus aposentos de luxo? O padre sorriu nervosamente e respondeu, nunca poderia esquecer! O conde sorriu e perguntou: o senhor